Pela primeira vez, a cidade de Cubatão abriu as portas de sua história para a comunidade e visitantes: o Projeto Roteiro Histórico realizado neste domingo (23/1) de manhã recontou boa parte dos fatos que marcaram o município. Ao visitar cada ponto, os participantes entenderam mais sobre os acontecimentos passados e souberam várias curiosidades acerca de cada espaço. As dicas foram de Francisco Torres, historiador e Coordenador das Bibliotecas da cidade e do Arquivo Histórico.
O ponto de partida foi justamente em frente à Biblioteca Municipal. Antes mesmo das 9h, já havia dezenas de pessoas, ansiosas, aguardando o Passeio que teve início ali mesmo. O prédio da Biblioteca, com sua arquitetura diferenciada, contrastando com as edificações modernas da av. Nove de Abril, foi tema da primeira explicação. Muita gente descobriu que o local abrigou a primeira escola municipal e foi sede da Prefeitura, isso no século passado.
Dali, o pessoal seguiu, em um ônibus, o restante do Roteiro. A primeira parada foi no Largo do Sapo, lugar onde teria sido o início do processo de povoamento da cidade, espaço que abrigou também o Porto Geral de Cubatão, onde, na época do império, as mercadorias eram embaladas e seguiam serra acima. O Largo, hoje passando por uma ampla restauração, foi tombado como patrimônio histórico pelo Condepac (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural).
O próximo ponto a ser visitado: o Cemitério Israelita, situado dentro do Cemitério Municipal. O pessoal seguiu caminhando até lá, enquanto o historiador contava algumas curiosidades sobre o bairro. Já dentro do Cemitério Israelita, os participantes souberam um pouco mais sobre grande parte das mulheres enterrada ali, as chamada “polacas”. Eram judias, que fugindo da miséria que assolava a Europa a partir de 1850, vieram para o Brasil em busca de casamentos arranjados e acabaram sendo exploradas por seus maridos, chamados “caftins, daí, a expressão aportuguesada, “cafetão”.
Seguindo os rumos da história, o ônibus seguiu até o Cruzeiro Quinhentista, o primeiro dos Monumentos do Caminho do Mar. Nesta parada, as pessoas tiraram fotos e aprenderam que o ponto, através de sua arquitetura e azulejos pintados, retrata a passagem dos jesuítas, a colonização da região e abertura do caminho através dos bandeirantes. Dona Ana Angélica Santos, moradora do Jardim Casqueiro, ficou encantada com a beleza dos azulejos. “Já conhecia esse local mas cada vez que venho aqui, parece mais bonito. As pessoas às vezes falam mal da cidade porque não a conhecem. Cubatão é linda, e cheia de boas histórias!”, disse, animada com o Passeio.
Seguindo pela av. Bernardo Geisel Filho, o Roteiro foi até a Vila Light, uma das últimas vilas operárias preservadas no Brasil. Criada para abrigar os funcionários da antiga empresa Light, hoje Emae, a vila foi construída em modelo canadense, com as moradias padronizadas, sem portão e com garagem separada do restante. Com a diminuição do funcionamento da usina, o número de operários decresceu, e algumas casas ficaram sem habitantes. Hoje o Condepac luta para que o estilo diferenciado das casas permaneça, seja tombado, garantindo, assim que o estilo operário do lugar permaneça, mesmo que as moradias sejam vendidas para terceiros.
Na sequência, a visitação foi na Vila Fabril, onde há casarios remanescentes da vila operária instalada ali, por conta da antiga fábrica de papel Santista (hoje MD Papéis). Em 1940 existiam no local cerca de 200 casas com escola, igreja, mercearia, padaria, clube, cinema. De alguns anos para cá, mesmo com o protesto dos moradores, vem acontecendo a descaracterização da Vila Fabril original, até com a derrubada de algumas moradias para abrigar estacionamento de caminhões. “É uma pena que isso esteja acontecendo e por isso precisamos preservar nossa história. Fiz questão de participar do Roteiro e trouxe minha filha, também. Me orgulho da minha cidade!”, disse Ana Flávia Gomes, auxiliar de Recursos Humanos.
A estruturação de um Roteiro Histórico em Cubatão deve valorizar a Cultura e História do município, resgatando fatos esquecidos ou desconhecidos por muito, colocando em foco a própria cidade. “Ficamos surpresos com o número de participantes. Temos até lista de espera para o mês que vem”, disse Welington Borges, secretário de Cultura, que fez questão de acompanhar todo o percurso. De acordo com ele, a cada mês haverá um passeio diferente por esse museu ao ar livre, que é Cubatão. O Roteiro Histórico é a prova de que história, cultura e progresso podem, sim, caminhar juntos.
Texto e fotos: Morgana Monteiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário