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sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Dudu, um papai Noel especial

Com paralisia cerebral, Eduardo passa listas de adesão para que crianças da Vila dos Pescadores sejam presenteadas no Natal.

Insetos, odor forte de resíduos orgânicos em decomposição, risco de sangrar com cacos descartados. Esses são apenas alguns dos componentes do trabalho de coletar inservíveis entre montanhas de lixo, o que para a maioria de pessoas representaria muita chance de ter elevado o mau humor. Pois foi nesse ambiente pouco aprazível que Marilene Alves dos Santos conseguiu pensar no outro, numa grande demonstração de até onde pode chegar a capacidade de solidarizar-se.


Constatando que brinquedos em boas condições chegavam aos montes no Lixão da Alemoa, pensou nas crianças de sua comunidade, a Vila dos Pescadores, que não tinham a oportunidade de ganhar exemplares novos. Usando água e sabão, tratou essas peças que começaram aos poucos a serem distribuídas. E certamente não por acaso que achou também uma indumentária completa de Papai Noel, que seu filho especial Eduardo Alves dos Santos, o Dudu, incorporou a prática de contemplar a meninada do bairro que até então só contava com a imaginação para se divertir.
Dudu tem hoje 33 anos de idade, embora pareça pouco mais que um adolescente. Tomou tanto gosto pela empreitada que há três anos vem passando listas entre os conhecidos para presentear crianças, a exemplo do que fazem outras instituições que possibilitam que o interessado possa escolher a criança segundo a idade, tamanho e sexo para quem comprará roupas e um brinquedo no final do ano.
Distribuição - Mesmo com dificuldades de comunicar-se oralmente devido à paralisia cerebral, Dudu é bastante popular. Faltando quatro meses para as festas já conseguiu 42 adesões para as 138 crianças listadas. A distribuição de presentes está marcada para dia 19 de dezembro, a partir das 16 horas, na Associação Comunitária da Vila dos Pescadores, ou Centro Comunitário do bairro, com o espaço à Rua Santa Júlia, 13.
Para que ninguém duvide do destino a ser dado às peças oferecidas pelos parceiros que se candidatarem a comprar mimos (agora só aceita novos), exibe uma coleção de fotos impressas por computador em folhas de sulfite reunidas numa encadernação de espiral. Quem vê Dudu tão empenhado em ajudar os outros, não tem ideia que sua mãe (que além dele tem mais quatro filhos a seu encargo) conte com pouco dinheiro mais a pensão de Dudu, em virtude do falecimento do pai deste, para o sustento da casa. Marilene dos Santos, hoje com 53 anos, com muitos problemas de saúde e dores pelo corpo não se encontra mais em condições de trabalhar, conforme afirmou.
Engana-se contudo que pensa que a assustam as condições adversas. “Criei meus filhos sozinha, trabalhando no lixão e até voltei a estudar aos 49 anos, partindo do quarto ano e hoje estou com Ensino Médio concluído”, explicou. A intenção era capacitar-se como auxiliar de enfermagem, mas a saúde não ajudou e por enquanto se ocupa dos afazeres domésticos. “Vou ajudar o Dudu a cuidar das crianças”, disse animada. “O Dudu é uma pessoa que Deus enviou para ajudar os outros”, explicou orgulhosa. “A gente é sofrido, mas procurar esquecer disso e fazer alguma coisa pelo próximo”, acrescentou.
Gosto pela computação – Marilene disse que deverá ainda oferecer um bolo e guloseimas para as crianças, e que serão bem vindas doações de comidas e bebidas para a festa a ser realizada por ocasião da distribuição. Fora a festa de Natal, contou que o que encanta Dudu é a informática, e que seu sonho é ter um computador. “Ele frequenta um curso gratuito de computação faz cinco anos. Sabe mexer com o equipamento melhor do que eu”, admite.
Contou que Dudu não é de ficar parado. “Chegou a trabalhar pela Frente de Trabalho no Arquivo da Prefeitura, onde se encarregava de embalar o material a ser arquivado e de dispensar o que não deveria ser aproveitado”. Conforme disse, “há alguns anos que não consegue mais emprego”. Mesmo com dificuldades de fala, ele dá um jeito de se comunicar com as pessoas e se fazer entender, no universo prático por meio de gestos muito claros e ordenados.
Conhecido da maioria dos servidores do Paço, sempre há quem apresente algum aspecto de sua história. “Dudu foi brigadista no treinamento para ações em caso de incêndio na Vila dos Pescadores”, disse o chefe da Divisão de Imprensam Serafim Romualdo Neto. “Se tivesse sido mais estimulado, tenho certeza que teria um potencial maior”, avaliou.
Já a chefe do Serviço de Educação Especial da Prefeitura, a professora Waldísia Rodrigues de Lima, contou ter um espaço à disposição dele para guardar os brinquedos doados pelos servidores até a data em que os possa levar para a Vila dos Pescadores. O Dudu sempre aparece nas repartições e nos eventos para pedir que os servidores colaborem com os vizinhos que precisam de alguma coisa. “É quase uma vereança o que ele faz”.
Contou que Dudu esteve no hasteamento de bandeiras na abertura da Semana da Pátria e fazia questão de ser escutado pelas autoridades ali presentes em suas reivindicações para a comunidade, no sentido da assistência emergencial. “Tantas pessoas podiam contribuir e não fazem nada, e o Dudu não busca para ele, mas para o outro”.
Para quem quiser “adotar” uma criança a ser presenteada por Dudu no Natal, o telefone da residência dele é: 3364-2256.


Texto: Maria Cecília de Souza Rodrigues. MTb 16561
Foto: Adalberto Medeiros.
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