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domingo, 22 de março de 2015

Mão de obra em Cubatão

Por Marcia Rosa, Prefeita de Cubatão - SP

A cidade de Cubatão convive de forma sistêmica com a contradição de produzir riquezas, que sustentam a economia do Estado de São Paulo e muito especialmente do Brasil. Com sua localização geográfica estratégica que liga a grande Metrópole/SP ao maior porto da América Latina e portanto, é de fundamental importância que seja vista, respeitada, planejada sob um olhar mais atento e humanizado para as pessoas, que aqui vivem e moram, criando filhos e construindo a história dessa Nação.

A falta de razoabilidade e compromisso com o destino dessa cidade fica evidente quando, em pleno século 21, continuamos a receber ônibus com centenas, milhares de trabalhadores de fora da cidade e da região, em detrimento da mão de obra local.

Faço aqui um apelo à reflexão: alguém é capaz de imaginar o que sente um trabalhador desempregado, qualificado, com uma família para sustentar, quando chega às 5h da manhã em frente ao PAT - Posto de Atendimento ao Trabalhador –, para disputar uma das muitas vagas ofertadas no dia anterior, e quando o estabelecimento abre as portas para o atendimento ele ouve: as vagas já foram preenchidas?

Pois bem, é isso que tem acontecido há décadas nessa cidade! Eu nunca estive nessa fila, até porque assim como eu e meus irmãos não conseguimos trabalhar em nossa cidade. Só consegui acessar o mercado de trabalho da cidade em que nasci através dos concursos públicos que prestei para professora. Mas, muito antes disso, fui aluna da primeira turma do Curso de Bacharelado em Química, com especialização em Petroquímica, isso no início dos anos 1980, quando vários profissionais dessa área foram absorvidos no Polo de Cubatão, mas não havia vestuários femininos e mulheres eram, como são até hoje, excluídas do seu direito ao trabalho por questões pequenas, tão peque- nas que nos envergonham.

Esse trabalhador preterido, com sua carteira de trabalho na mão, o coração apertado pelas pressões da família e a esperança viva mesmo diante das muitas horas na rua, descansando o corpo exausto no chão frio até que as portas se abrissem. O sentimento é de humilhação, desrespeito, ofensa, descaso e dor!
Governar essa cidade e suas contradições é um desafio! Mas, não será essa insensibilidade capitalista sem cunho social que vai nos impedir de avançar nessa luta. Sei que é mais fácil julgar, condenar, criar desculpas e culpas. Mas, também é preciso responsabilizar, inclusive judicialmente, essa postura aparentemente comum.

Só para exemplificar, somente agora no mês de março recebemos solicitação de 736 novas vagas para o Ensino Fundamental. Onde estavam essas crianças? O ano letivo já começou! Como fica o planejamento da cidade? E como ficará, se esses empregos são temporários?
Resumindo, a cidade se desorganiza com a falta de respeito e amor ao próximo e o ciclo da exclusão não se rompe sem que todos os protagonistas da história atual se deem as mãos: poder público, empresas, Ciesp e sociedade, sem cor, sem bandeiras, mas com ética e compromisso social.A dor do trabalhador preterido de nossa cidade é a dor de toda nossa comunidade! E juntos vamos construir uma nova história. E conto com a compreensão e apoio de todos e todas!

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