Estudo aponta a Paraíba como 4º estado com maior número de
mortes violentas.
Por Jaine Alves, Jornal da Paraíba
Francisco França Professora da UEPB foi encontrada morta em
seu apartamento, o ex-companheiro da vítima é o único suspeito

A Paraíba é quarto Estado da Região Nordeste com maior
incidência de morte violenta contra mulheres, com a média de 6,99 mortes a cada
100 mil pessoas do sexo feminino, superando os índices nacional (5,82) e
regional (6,90) de casos de homicídios contra mulher.
Os dados fazem referência ao período entre 2009 e 2011,
contidos no estudo ‘Violência contra a mulher: feminicídios no Brasil - dados
corrigidos sobre taxas de feminicídios e perfil das mortes de mulheres por
violência no Brasil e nos Estados’, divulgado na manhã de ontem pelo Instituto
de Pesquisa e Economia Aplicada (Ipea).
Com relação aos Estados brasileiros, o estudo aponta a
Paraíba em 8º lugar entre os mais violentos para mulheres, ficando atrás apenas
do Espírito Santo (11,24), Bahia (9,08), Alagoas (8,84), Roraima (8,51),
Pernambuco (7,81), Goiás (7,57) e Rondônia (7,42).
O estudo concluiu que “a magnitude dos feminicídios foi
elevada em todas as regiões e unidades da federação no país e que o perfil dos
óbitos é, em grande parte, compatível com situações relacionadas à violência
doméstica e familiar contra a mulher”, onde esses crimes são geralmente
cometidos por homens, principalmente parceiros ou ex-parceiros.
E ressalta ainda que “essa situação é preocupante, uma vez
que os feminicídios são eventos completamente evitáveis, que abreviam as vidas
de muitas mulheres jovens, causando perdas inestimáveis, além de consequências
potencialmente adversas para as crianças, para as famílias e para a sociedade”.
Um caso de repercussão no Estado que reforça o estudo foi o
da professora do curso de Arquivologia da Universidade Estadual da Paraíba
(UEPB) Briggida Rosely de Azevedo Lourenço, de 27 anos. Ela foi encontrada
morta no dia 19 de junho do ano passado, dentro do próprio apartamento, em João
Pessoa, com sinais de estrangulamento. Para a polícia, o único suspeito de ter
cometido o crime é o ex-marido da vítima, Gilberto Lyra Stucker, porque estaria
inconformado com o fim do relacionamento. Gilberto chegou a ligar para a mãe da
professora pedindo que chamasse o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
(Samu), pois havia “feito uma besteira”.
OUTRAS VIOLÊNCIAS
O documento do Ipea investigou apenas os óbitos, mas
destacou que “a violência contra a mulher compreende uma ampla gama de atos,
desde a agressão verbal e outras formas de abuso emocional, até a violência
física ou sexual” e que existe um lado submerso que “esconde um mundo de
violências não declaradas, especialmente a violência rotineira contra mulheres
no espaço do lar”.
MEDO AINDA IMPEDE DENÚNCIAS
A integrante do Centro da Mulher 8 de Março, Organização Não
Governamental (ONG) que luta em defesa da violência contra mulher, Maria Lúcia,
observou que os dados revelam o medo que as mulheres ainda sentem no que se
refere em denunciar o seu agressor.
“O machismo e a violência têm crescido assustadoramente,
cujo fator principal é a impunidade dos agressores. Se eles continuam sem
punição acaba colaborando, cada vez mais, para que a violência contra mulher
seja considerada algo natural. Então, é preciso pensar em políticas públicas
que visem a coibir esse ato, de modo que todos caminhem juntos, inclusive as
mulheres, que precisam ter coragem de denunciar os seus agressores, para que se
possa alcançar um resultado positivo”, avaliou.
SEDS
A Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social
(Seds) informou, através da assessoria de comunicação, que a Paraíba registrou
uma redução de 15% no número de mulheres assassinadas entre os meses de janeiro
a agosto deste ano, quando 86 mulheres
foram assassinadas, em comparação ao mesmo período de 2012, que registrou 101
Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) – homicídios dolosos ou qualquer
outro crime doloso que resulte em morte. Os dados são do Núcleo de Análise
Criminal e Estatística (Nace).
Ainda segundo o núcleo, até o fim de agosto de 2013, 190
municípios paraibanos não registraram homicídios de mulheres e João Pessoa
continua concentrando a maioria dos casos de CVLI de mulheres, com 28
homicídios neste ano, seis a menos no mesmo período de 2012.
Ao finalizar, a Seds informou que queixas relacionadas
especificamente à violência contra mulheres podem ser apresentadas diretamente
em uma das nove delegacias especializadas distribuídas em todo o Estado,
instaladas nas cidade de João Pessoa, Cabedelo, Bayeux, Santa Rita, Campina
Grande, Guarabira, Patos, Sousa e Cajazeiras.
UNIDADES MÓVEIS
Representantes da Rede Estadual de Atenção às Mulheres
Vítimas de Violência discutiram, ontem, no auditório do Ministério Público, em
João Pessoa, a agenda de funcionamento das unidades móveis (delegacias) em
áreas da zona rural da Paraíba para atendimento de mulheres trabalhadoras do
campo.
Segundo a secretária da Mulher e da Diversidade Humana,
Gilberta Soares, a partir de novembro as duas unidades móveis já estarão
circulando pelo interior do Estado.
As unidades foram entregues pela Secretaria de Políticas
para as Mulheres da Presidência da República (SPM-PR). Na reunião também foi
discutido o processo para dar agilidade na emissão dos laudos de mulheres
vítimas de violência atendidas pela rede de saúde.