Reprodução na íntegra de matéria publicada em A Tribuna On-line em 27/01/2015
Fotos: Marcus Cabaleiro
A prefeita de Cubatão, Marcia Rosa (PT), postou, em seu
perfil no Twitter, nesta terça-feira (27), um alerta de que o vazamento de
dióxido de enxofre (SO2) ocorrido na última sexta-feira (23), no Polo Industrial,
pode causar chuva ácida. "Enviei documento ao Polo sobre o vazamento do
SO2. Esse gás em contato com a água produz ácido sulfúrico, que pode provocar
chuva ácida", escreveu a chefe do Executivo. Ela afirma já ter encaminhado
documento solicitando reunião com representantes do Ministério Público e da
Regional do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), que
representa as indústrias do Pólo Industrial de Cubatão, para tratar do tema.
O vazamento ocorreu a partir da fábrica de fertilizantes
Anglo American (antiga Coperbrás). A empresa foi multada pela Companhia de
Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) em 10 mil UFESPs (Unidade Fiscal do
Estado de São Paulo, cujo valor unitário em 2015 é de R$ 21,25), o equivalente
a R$ 212 mil. Cerca de 90 pessoas deram entrada no PS Central de Cubatão após
passarem mal com o forte cheiro do produto.
A chuva ácida ocorre quando existe na atmosfera um número
muito grande de enxofre (SO2) e óxidos de nitrogênio (NO, NO2, N2O5) que,
quando em contato com o hidrogênio em forma de vapor, formam ácidos como o
nítrico (HNO3), ou o sulfúrico (H2SO4).
Segundo a Prefeitura, folhas da vegetação da Cidade apresentam
manchas indicando prejuízo ao meio ambiente
Segundo a Prefeitura, folhas da vegetação da Cidade
apresentam manchas indicando prejuízo ao meio ambiente
De acordo com a chefe do Executivo cubatense, a natureza
já sente reflexos do vazamento. "A preocupação é grande, pois no Jardim
Costa e Silva, as folhas estão desidratadas e caindo como se estivéssemos na
estação do outono. Não sabemos a quantidade que vazou e estamos vendo as
consequências a posteriori", afirma.
Marcia Rosa considera a penalização dada à empresa por
parte da Cestesb muito branda. "Houve um vazamento de gás na sexta-feira
que causou um transtorno imenso. E somente agora fomos saber de onde veio o
problema e da multa, que está muito longe de pagar por um dano como esse. É uma
falha inadimissível".
Quantidade de folhas caídas no chão chamou a atenção após vazamento de gás |
Quantidade de folhas caídas no chão chamou a atenção após
vazamento de gás
A prefeita afima que não quer que a Cidade reviva o
cenário semelhante ao da década de 80, quando o Polo Industrial chegou a ser
conhecido como Vale da Morte. As diversas fábricas, que provocavam poluição da
água, do solo e do ar, somadas à falta de legislação ambiental da época,
provocaram um ambiente inóspito, onde pessoas e animais eram acometidos por
muitas doenças.
Esta história triste começou a ser modificada a partir da
articulação entre a sociedade civil organizada, o governo e as indústrias, agora
submetidas a uma legislação ambiental rigorosa. "Nenhum de nós quer voltar
ao passado", ressalta Marcia Rosa.
Plano emergencial falhou
Para o presidente do Sindicato dos Químicos de Cubatão e
Região, Herbert Passos Filho, a prefeita de Cubatão tem toda a razão de estar
preocupada. “A Marcia Rosa é professora de química e tem conhecimento do que
está falando. A chuva ácida, que ocorre quando o SO2 entra em contato com o
oxigênio e com a umidade, é preocupante. Ela pode causar queimaduras no tecido
pulmonar, quando respirado, além de ser asfixiante”, comenta.
Ainda conforme o sindicalista, além dos riscos ambientais
e à saúde, um dos fatores mais preocupantes após a emissão do gás foi a falta
de organização do Polo Industrial de Cubatão para lidar com o evento. “Foi tudo
muito bagunçado. As empresas estavam ligando para o sindicato para ter
conhecimento do que havia ocorrido. Não havia uma liderança para que o plano de
evacuação do local fosse realizado. Muitas pessoas se arriscaram, inclusive
usando transporte individual”.
Após o episódio, o sindicato enviou um ofício ao Centro
das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) solicitando uma reunião para
tratar da organização de um plano de evacuação que seja funcional. O encontro
será nesta sexta-feira (30), às 9 horas.
“Houve muitas falhas de comunicação. Nós, que somos um
sindicato, já sabíamos da origem do vazamento, enquanto as empresas não tinham
conhecimento do caso. Precisamos colocar em prática um plano de emergência para
preparar os trabalhadores. Nos preocupa muito mais o que não aconteceu, do que
o que aconteceu. Em Cubatão existe um plano emergencial, mas ele não foi bem
operacionalizado”, finaliza.
A Anglo American
diz trabalhar com especialistas externos para tomar as medidas necessárias.
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